Ficar velhos traz perdas. Em nossa caminhada pela terra, estaremos sempre perdendo algo. A maioria de nós perde tempo pelo fato de não prestar atenção nas bênçãos que a vida nos oferece a cada dia.
Também perdemos cabelo, desempenho, memória, viço, beleza. Perdemos a capacidade de fazer as coisas sozinhos; perdemos liberdade.
Também perdemos destreza para lidar com as novas tecnologias; custamos a aprender como se paga conta pelo aplicativo de banco, isso quando aprendemos. Muitos de nós passam a ganhar menos do que estavam habituados.
Tomaremos mais remédios e nosso plano de saúde, se tivermos a sorte de possuir um, será muito caro. Nossa qualidade de vida piora por causa disso. É tudo parte do envelhecimento que vai chegando devagarzinho. Ou, quem sabe, de um golpe só.
Muitas vezes perdemos doçura e nos transformamos em pessoas rígidas em mais de um sentido, nas articulações e no coração, por exemplo. Pensamos que o envelhecimento nos tornará mais resistentes à perda, porque, afinal, ganhamos couraça, experiência. Ilusão. Uma pessoa de 80 anos não tem a experiência de ter 81 porque ainda não chegou lá.
De certa maneira, somos todos aprendizes do viver, por mais que os anos avancem sobre nós.
É impossível falar de perdas sem falar de morte. Perdas arrastam consigo os lutos, que na velhice virão com mais frequência. Luto pelos familiares que se foram antes de nós, pelos amigos que perdemos, pelas capacidades que fragilizam ou simplesmente desaparecem.
Luto pelo emprego, pelas reações, pela segurança financeira. Muitas vezes, com o avanço da idade, perdemos algo ou alguém que nos validava como pessoa ou como profissional e ficamos desnorteados, sem saber quem somos.
Nossa humanidade nos impele a manter ao nosso redor tudo que funciona como um espelho do que gostaríamos de ser – ou talvez até sejamos, embora precisemos desse espelho para ter certeza. Quando perdemos essa pessoa ou situação, desaparece com ela o parâmetro de quem somos.
Perder é tão duro quanto inevitável.
E, para envelhecer bem, precisamos a aprender a perder, independente de termos 20, 40 ou 70 anos.
Trecho do livro “Pra vida toda valer a pena viver – pequeno manual para envelhecer com alegria” (p. 70-71). Autora: Ana Claudia Quintana Arantes.