Há alguns anos, em uma sessão com a psicoterapeuta Devers Branden, fui submetido a um exercício chamado “Leito de morte”. Primeiro eu deveria me imaginar em meu leito de morte e tentar sentir as emoções associadas a morrer e dizer adeus. Então, ela pediu que eu convidasse mentalmente as pessoas importantes em minha vida para me visitarem nessa hora final, uma de cada vez. Enquanto eu visualizava cada amigo e parente me visitando, tinha que falar com eles em voz alta. Precisava dizer a eles o que queria que soubessem no momento em que eu estava partindo.
Com cada pessoa que eu falava, minha voz ficava embargada de emoção. Eu não conseguia segurar o choro. Tinha uma imensa sensação de perda. Não estava sofrendo pelo fim da minha vida, mas pelo amor que eu perderia. Para ser mais claro, eu estava expressando meu carinho de uma forma que nunca havia feito antes.
Durante esse difícil exercício, consegui perceber quanta coisa eu deixara de fora da minha vida. Eram muitos os sentimentos maravilhosos que nutria pelos meus filhos, por exemplo, e que nunca havia expressado abertamente. Ao fim daquela sessão, eu estava muito abalado. Poucas vezes havia chorado tanto. Mas, depois de extravasar essas emoções, algo incrível aconteceu. Obtive clareza. Soube o que era de fato importante e quem significava mais para mim.
Daquele dia em diante, jurei jamais deixar nada ao acaso nem omitir meus sentimentos. Queria viver a vida como se fosse morrer a qualquer momento. Aquela experiência alterou por completo a forma como me relaciono com as pessoas. Consegui entender o ponto principal do exercício: não precisamos esperar até estarmos prestes a morrer para usufruir do benefício da mortalidade. Podemos criar essa experiência a qualquer momento.
Alguns anos depois, quando minha mãe vivia seus últimos instantes, numa cama de hospital em Tucson, eu me apressei para segurar sua mão e lhe dizer, mais uma vez, quanto a amava e era grato por tudo que ela havia sido para mim. Quando finalmente faleceu, meu luto foi muito intenso, mas curto. Em alguns dias, senti que tudo de bom em minha mãe agora fazia parte de mim e que ela viveria comigo para sempre, como um espírito amoroso.
Um ano e meio antes da morte do meu pai, comecei a lhe mandar cartas e poemas sobre quanto ele havia contribuído para minha vida. Em seus últimos meses, ele sofreu com uma doença crônica, por isso nem sempre era fácil me comunicar ou falar com ele pessoalmente. Mas sempre me fez bem saber que ele podia ler tudo aquilo. Uma vez, me ligou depois de ler um poema que fiz em homenagem ao Dia dos Pais e disse: “É, acho que fui um pai melhor do que eu pensava.”
O poeta William Blake nos alertou sobre o perigo de manter nossos pensamentos trancados dentro de nós até a morte. “Se o pensamento está preso em cavernas, as raízes do amor só aparecerão nas profundezas do inferno.”
Fingir que não vamos morrer prejudica a forma como aproveitamos a vida. É como se um jogador de basquete, por exemplo, fingisse que não há um fim para a partida que está disputando. Ele iria reduzir sua intensidade, adotar um estilo preguiçoso de jogar e, é claro, acabar nem se divertindo muito. Sem final, não há jogo. Sem a consciência da morte, você não estará totalmente consciente da dádiva de estar vivo.
Mesmo assim, muitos de nós continuamos fingindo que o jogo da nossa vida não terá um final. Seguimos deixando para fazer coisas maravilhosas no futuro, no dia em que estivermos dispostos.
Aceitar a realidade da própria morte não precisa acontecer apenas quando a vida estiver chegando ao fim. Na verdade, ser capaz de imaginar com clareza seus últimos momentos no leito de morte cria uma sensação paradoxal: a de nascer de novo – o primeiro passo para a automotivação corajosa.
Como disse a escritora Anaïs Nin: “As pessoas que vivem profundamente não têm medo de morrer.”
Por Steve Chandler, do livro “100 maneiras de motivar a si mesmo – um plano de ação para banir os pensamentos negativos que bloqueiam sonhos e objetivos.