Por falar em diferenças e igualdades, o fato de vivermos em metrópoles – em cidade altamente povoadas, onde a convivência se dá em aglomerados imensos – cria automaticamente uma situação de anonimato para seus habitantes.
Pela simples condição numérica, por ser um entre milhões, todo cidadão se torna anônimo, sem identidade, invisível. O filósofo irlandês George Berkeley disse um dia que “ser é ser percebido”. Ou seja, se não é percebido, não existe. Berkeley não estava falando apenas de pessoas, mas de tudo o que existe. Uma estrela, um planeta, uma galáxia: se nós não os conhecemos, não os percebemos, logo, eles não existem para nós, e só passam a ter existência quando são notados.
Isso vale para uma sociedade “galáctica” como a nossa, que não é galáctica pelo número de estrelas que contém, mas pelo número de pessoas que querem ser estrelas para poder brilhar. Não é casual que vivamos afirmando que “gente foi feita para brilhar”. O brilho pessoal é uma concepção da modernidade, pois, na Ásia antiga ou mesmo no mundo medieval europeu, o que prevalecia era o culto ao anonimato, ao silêncio, e a prática da meditação. Isso ficou para trás.
Hoje, a modernidade transformou o ruído numa forma de expressão, a tal ponto que nossa expressão de vida tem de ser ruidosa. Para serem notadas, para ganharem existência, as pessoas vivem em função de apelos como “eis-me aqui”, “olhem para mim”. É aquilo que Guimarães Rosa chamou de “viver em voz alta”.
Por Mario Sergio Cortella. Trecho do texto “A sociedade da exposição”, do livro “Viver em paz para morrer em paz”.