Algumas pessoas, quando pensam no que devem fazer para construir e até proteger o futuro, têm como referência aquilo que já foi, não como o que inspira, mas como algo que aprisiona. Em outras palavras, é gente que tem âncoras, em vez de raízes.
A raiz alimenta, enquanto a âncora imobiliza. A âncora faz com que se diga “Ah, no meu tempo…” e “Ah, se eu pudesse…”. E quando chegamos numa época de fazer planos, de organizar o ano seguinte, a capacidade de preparar o futuro tem de levar em conta o exemplo do carro.
Quem já esteve em um carro, dirigindo ou apenas se locomovendo, sabe que o carro tem retrovisor e para-brisa. E deve ter notado, obviamente, que o retrovisor é menor que o para-brisa. Claro! Por que o retrovisor é aquilo que passou, é referência, não direção. É por isso que o para-brisa tem que ser muito maior.
Há pessoas que “dirigem” sua vida e sua história com um para-brisa pequeno e um retrovisor imenso. Ficam o tempo todo olhando o que já foi como sendo o modo como as coisas têm de ser. E aí não conseguem viver aquilo que virá. São aquelas que leem as mesmas coisas, fazem do mesmo modo, e agem da mesma maneira.
Não estou falando de coerência ética, mas de imobilidade mental, ou seja, a incapacidade de perceber a importância da referência do passado para ter clareza na direção do presente.
Passado é referência, não é direção. Cautela para não aumentar demais o retrovisor.
Por Mario Sergio Cortella, do livro “Pensar bem nos faz bem! – filosofia, religião, ciência e educação”