Paulo Freire falava do risco da educação que ele chamava de “bancária”. Obviamente não tem a ver com a profissão de bancário, mas muitas pessoas supunham que, para educar alguém, bastava fazer depósitos sucessivos, como se fosse num banco e no dia da prova se fazia o cheque, que vinha com ou sem fundo. Como se o aluno ou aluna, tivesse a idade que tivesse, fosse um recipiente vazio, que bastava depositar dentro. Paulo Freire também falava do perigo de fazer da educação uma domesticação, isto é, adestrar alguém.
Estou a usar a palavra adestrar tal como se usa com outros animais: tirar dele a vontade própria, o que é puramente instintivo, fazer com que eles vivam conosco na nossa casa, o domus, o doméstico. Educação, como domesticação, significa também desumanização. Tirar o humano, isto é, a liberdade.
Paulo Freire usava muito a palavra “autonomia”. Uma educação que eleva, que respeita, que faz com que a pessoa ganhe a sua liberdade, é aquela que produz autonomia, em que conseguirá pensar de modo próprio, agir com consciência, atuar de maneira deliberada, conforme aquilo que decidiu e pensou.
Não é alguém soberano, que faz qualquer coisa, mas alguém que é autônomo, que não é domesticado, que não é aprisionado, como se fosse apenas treinado, adestrado para ser obediente. Educar é gerar autonomia!
Por Mario Sergio Cortella – do livro “Pensar bem nos faz bem!”