Eu sou um cara comum
que uma vez se ajoelhou e perguntou:
“Quer se casar comigo?”
Ela respondeu: “Não.”
Peguei minhas coisas
e fui procurar uma mulher que diga “sim”.
Eu sou um cara comum
que uma vez a namorada chegou em casa chorando.
Segurei a mão dela, e disse:
“Não chora. Estou aqui.”
Ela respondeu:
“Eu te trai.”
Peguei minhas coisas
e fui procurar uma mulher que não trai.
Eu sou um cara normal
que namorou por quatro anos
e a namorada terminou por mensagem dizendo:
“Vai dar errado.”
Peguei minhas coisas
e fui procurar uma mulher que dê certo.
Eu sou um cara normal
que uma vez se apaixonou pela melhor amiga.
Se declarou.
E escutou: “Você é especial, mas…”
Peguei minhas coisas
e fui procurar uma mulher que não tenha “mas.”
E sim, uma mulher que queira mais.
Eu sou um cara comum
que chora em filme, propaganda e foto de família.
Mas neste mundo
homem sensível é “clichê” ou gay.
Eu sou um cara comum
que não quer ganhar no jogo.
E muitas vezes perde no amor.
Eu sou um cara comum
que em 2001 teve uma doença de pele
e perdeu os cabelos.
Vários amigos disseram:
“Careca? Nenhuma mulher vai querer você.”
Peguei minhas coisas
e fui procurar outros amigos que disseram:
“Você sarou? Precisa de algo?”
Eu sou um cara normal
que uma vez quando criança,
escutou um menino dizendo para uma menina:
“Você é feia.”
Ela saiu correndo chorando.
Peguei uma folha e
escrevi em todas as linhas.
“Você é linda.”
Deixei dentro da mochila dela.
No outro dia,
ela colou a folha na capa do caderno.
Eu sou um cara comum
que um dia, a namorada enviou uma mensagem:
“Eu amo você.”
Uma semana depois, terminou dizendo:
“Não vou ficar com você por pena
porque seu pai está doente.”
Peguei minhas coisas
e fui procurar uma mulher
que não tenha pena de mim.
Eu sou um cara comum
quero ter uma casa,
uma familia e um labrador.
Um cara comum
que o pai está doente.
Não fala, não anda
mas ainda sorri.
E não vai desistir.
Um homem com uma história
que ninguém acredita.
Que passa horas no banho
para a água se misturar com as lágrimas.
Que todas as noites
tranca a porta do quarto
para sua mãe não entrar e vê-lo chorar.
Que escreveu na parede:
“Mais coração, menos razão”
Que desenhou no teto
um céu cheio de estrelas.
Para sonhar, rezar e pedir:
“Deus, por favor,
você poderia mandar alguém aqui para curar meu pai?”
Eu sou um cara comum.
Não importa o quanto isso me destrua.
Eu não vou parar.
Você pode não acreditar.
Eu não me importo.
Não vou desistir.
Por que se eu desistir,
eu seria outra pessoa pela qual
não vale a pena lutar.
Texto de Ique Carvalho