Eu aceitei a proposta a meses.
Fiz contas aqui e ali, pedi ajuda,… chorei porque jurava que não ia rolar… surtei… respirei fundo e só não desisti porque tenho uma família que sempre acreditou mais nos meus sonhos do que eu.
Comprei as passagens.
Arrumei as malas e, por Deus, como é difícil saber o que levar quando você vai passar tanto tempo longe.
Para largar tudo e ir para o outro lado do País… a gente encara o medo, cansaço e muita dor de cabeça.
Mas essa é a parte fácil… Difícil mesmo é partir.
Difícil é ficar se perguntando:
“Com quem eu vou marcar e desmarcar mil vezes aquele sertanejo que a gente tanto queria ir?”
“E pra quem eu ligo quando não quiser ficar sozinha, mas estiver totalmente quebrada no fim do mês?”
“E se eu não estiver lá quando a minha família conhecer o primeiro namorado da minha irmã?”
“E se alguém ficar doente? E se precisarem do meu colo, da minha atenção e do meu cuidado?”
“Quem é que vai garantir que vai ficar todo mundo vivinho e inteiro do jeito que eu deixei quando resolvi ir para longe?”
Difícil é partir… e se tocar, enquanto a gente arruma as malas, que todo mundo vai continuar em frente.
E vão surgir outros amigos… outros “rolês”, outras histórias, outras risadas… outras viagens. E sempre vai ter um colo, um cuidado e atenção disponíveis para quem você ama.
Difícil é saber que vai todo mundo continuar trabalhando e vivendo e conhecendo gente nova. E vão perguntar para você: “e aí, como você tá, como andam as coisas?”…e, no segundo seguinte, a vida segue.
Mesmo com você lá do outro lado do País.
Difícil é saber que você não vai estar lá.
No aniversário da sua melhor amiga… No dia das mães… No dia dos pais…. No seu próprio aniversário.
E seu Natal vai ser um pouco mais triste e mais vazio porque sua família não vai estar com você.
Difícil é começar a sentir falta dos abraços sem sequer ter ido ainda, e do cheiro das pessoas que você ama…E do olhar carinhoso do seu cachorro cada vez que você chega em casa.
Difícil é deixar uma parte da gente assim, em cada canto, em cada lugar que a gente costumava frequentar, e se esquecer um pouquinho em cada uma das pessoas que a gente deixa, com uma fé sincera de que elas vão nos manter ali: intactos.
Amados, partir é ter noção de que a gente não é insubstituível.
Recife vai continuar sendo Recife.
As pessoas vão continuar seus dias normalmente, talvez apenas com uma dose de saudade. De resto, a gente tem menos importância do que, às vezes, acredita. Mas partir é também valorizar cada uma dessas pessoas que, por livre e espontânea vontade, continuam nos querendo na vida. Seja em Recife, Belo Horizonte, Londres ou Paris. E é por isso que é tão difícil partir.
Mas é chegada a hora… e hoje já é hora de ir!
Por Karla Souza