De que adianta dizer que mudou e continuar com os mesmos hábitos e com a mesma maneira de pensar?
Dizer que mudou é fácil, mas provar que mudou é uma coisa totalmente diferente. Por fazer ou dizer alguma coisa fora daquilo que estávamos acostumados, acreditamos piamente que nossa vida está mudando… que sou uma pessoa diferente. Na verdade, seus objetivos continuam sendo os mesmos, e sua coragem continua tão pequena quanto um grão de areia. Negamos a possibilidade de sentir a adrenalina e o medo percorrer as veias de nosso corpo, e acabamos paralisados por algum “senso” de etiqueta que aprendemos não sei onde.
De que adianta o tempo passar e ainda continuarmos a falar as coisas inconscientemente… como se crianças nós fôssemos?
Não observamos o contexto, fingimos que isso não vai afetar outras pessoas, e nem a nós mesmos e quando nos damos conta, estamos envolvidos por ondas de pequenos (ou grandes) desconfortos em nossas relações. Nos envolvemos em pedidos de desculpas, em conversas repetitivas com o intuito de amenizar o dito e o não dito, de justificar a nossa parcialidade sobre a nossa humanidade.
De que adianta tamanha promiscuidade entre quatro paredes, sem nem ao menos um beijo ao ar livre podes me dar?
Seria hipócrita se não afirmasse que a desejo, que minha imaginação ferve ao simples sinal de sua presença, e que morder, lamber e chupar seriam ações prováveis a fazer… mas de que adianta isso se nem ao menos um passeio ao ar livre posso fazer? Ou se nem um beijo apaixonado no meio de olhares (e de cobiça) das pessoas posso dar?
Sentimos antecipadamente o que os outros vão dizer de nós, da consequente vergonha que passaremos, e buscamos, assim, evitar determinados tipos de comportamento em público. Viveremos uma vida pela metade? Viveremos sem nos permitir? A simplicidade não é vivenciada entre quatro paredes, mas no sorriso da criança, no movimento da multidão, na luz do sol em um final de tarde.
De que adianta ser forte por fora, e frágil por dentro?
Bradamos aos ventos que se encontrarmos uma pessoa que seja “digna” de estar perto da gente, ela vai ter que se adequar, ou que realizará nossas vontades… ou os dois juntos. E sabe porque dizemos isso? Porque não conseguimos lidar conosco, que dirá de um outro que deseja se aproximar! Modelamos uma imagem de forte, com foco nos objetivos profissionais e de extrema independência, para esconder o verdadeiro “eu” guardado no silêncio do nosso coração: carente, sedento por amar e ser amado, e receoso de se entregar a uma nova paixão por conta de alguma coisa do passado mal resolvida – ou não plenamente esquecida.
De que adianta ser livre quando se está preso, e ficar preso quando se é livre?
A nossa felicidade está nas coisas… nos grandiosos eventos… nas fotos…
Não temos mais a capacidade de ter felicidade por conta própria e ser atores de nossas vidas. Esperamos grandes acontecimentos para ficarmos momentaneamente satisfeitos com alguma coisa deste mundo… e estamos tão ansiosos pela foto no celular, que esquecemos o que o registro na memória pode trazer.
Ai eu te pergunto: de que adianta?
Quer agradar? Siga em frente.
Só não pergunte porque eu não te segui.
Por Ricardo Verçoza – Professor, Administrador e futuro jornalista.