Vestir-se bem. Falar com eloquência. Ter atitudes ousadas.
Essa parece ser a imagem de uma pessoa de sucesso no mundo contemporâneo, que tem em sua essência um perfil extrovertido, de grandes realizações e plenamente destemido. Se você não percebe, sutilmente nos é colocado um “modelo” de vida onde temos como referenciais coisas que muitas vezes não pertence a nossa identidade e que transparece uma superficialidade sem fim. Mas essa realidade não é de agora…
Muita coisa mudou ao longo do tempo. A nova economia “pediu” um tipo de pessoa que saiba se vender, com boas relações sociais, de sorriso fácil, com um aperto de mão imponente… e isso foi sendo inserido como comportamento dominante. Como? O expoente foi Dale Carnegie, com toda sua história de persistência. Filho de um dono de fazenda de porcos, era magrelo, nada atlético e rabugento (palavras que muitos utilizam para caracterizá-lo), e tornou-se uma das pessoas mais habilidosas com comunicação através da atividade de vendas. Em 1913 publicou seu livro “Como falar em público e influenciar pessoas no mundo dos negócios”. A trajetória de Carnegie mudou a maneira como as pessoas se viam no mundo, antes tendo o foco no Culto ao Caráter, e após suas influencias tendo o foco no Culto a Personalidade. E o que seriam o Culto ao Caráter e a Personalidade?
No Culto ao Caráter, o caráter ideal era alguém sério, disciplinado e honorável. O que contava não era tanto a impressão que alguém causava em público, mas como o indivíduo se portava na esfera privada. Características como cidadania, dever, honra, moral, modos e integridade eram valorizadas em guias de autoajuda. O tempo foi passando e “cidadãos transformaram-se em funcionários, enfrentando a questão de como causar uma boa impressão em pessoas com quem não tinham laços cívicos ou familiares”, entusiasmados com os guias de autoajuda que deixaram de dar valor à virtude interior para enfatizar o encantamento exterior. Surge, então, o Culto a Personalidade, onde as pessoas começaram a focar em como os outros as viam, e associavam seu papel social como um de um “performer” ou de um “showmem”. Características como fascinante, vigoroso, enérgico, radiante e impressionante conduzia e influenciava o imaginário popular, e de certa forma provocava uma reverência à ação (enquanto se desconfiava do intelecto).
É claro que o Ideal da Extroversão não é uma invenção moderna, mas hoje continua crescendo, e existe uma pressão para entreter e vender a nós mesmo, sem contar que estamos visivelmente mais ansiosos. Isso é bom? Acredito que não! As pessoas acabam sendo estimuladas a adotar um modelo de comportamento às vezes não condizente consigo mesmas, internalizando um sonho ou uma maneira de agir de outro indivíduo. E quando não conseguem? Bem, ficam desmotivadas, mal-humoradas e/ou depressivas. Precisamos entender que, independente dos referenciais adotados pela sociedade, nossa autenticidade é inestimável e quem resume sua vida a buscar a perfeição, pode acabar sendo vulgar…como diz Mário Quintana: “Buscas a perfeição? Não sejas vulgar. Autenticidade dá muito mais trabalho”.
Meu intuito neste texto não é responder necessariamente a pergunta-título, mas buscar elucidar para você leitor algumas razões que nos fazem seguir o Culto à Personalidade e a entender a extroversão com ideal cultural. Para provocar ainda mais, deixo mais uma pergunta, contida no livro “O poder dos quietos”, de Susan Cain:
“Como passamos ao Culto à Personalidade sem perceber que perdemos algo de significativo no caminho?”
OBS: não troque sua autenticidade por meia dúzia de superficialidades.
Por Ricardo Verçoza – Professor, Administrador, e futuro jornalista.