O Brasil está em desenvolvimento, e isso é um fato. O que devemos observar, especialmente quando abordamos o mercado de trabalho, é como a educação de hoje influencia a empregabilidade e provoca as mudanças sociais. Em tempos passados, víamos um modelo que não valorizava a competência dominar o mundo corporativo – independente de quão bom você fosse, prevalecia quem tivesse o contato de “amigos”; agora, vemos que a meritocracia vem conquistando espaço, seja pela transformação que a gestão de pessoas está sofrendo (novas políticas, culturas, etc.), seja pelo maior desejo dos indivíduos em crescer (a inserção de novas gerações contribui para este fato).
Com todas as mudanças que vem acontecendo em nossa sociedade – econômicas, culturais e sociais -, devemos pensar o futuro questionando ideias tradicionais que envolvem a educação e a empregabilidade. Você acredita que nascer em uma família rica é garantia de emprego fácil? Entende que pessoas menos favorecidas não conseguem obter conquistas? Vamos analisar esse trecho de Bourdieu:
“Em A Distinção, Bourdieu (1988) apresenta não só as estratificações sociais da sociedade contemporânea, mas aborda também os mecanismos sociais que reproduzem essas estratificações. Ao destacar que as chances daqueles nascidos no seio das elites sócio-culturais da sociedade se manterem nessa condição em sua vida adulta são tão grandes quanto as chances dos filhos dos menos favorecidos reproduzirem as condições de vida de seus pais, no futuro, Bourdieu ressalta a dimensão estrutural da condição de inserção social, que relega ao segundo plano a possibilidade dos esforços individuais romperem as fronteiras de classes.”
Bourdieu propõe a reprodução das estratificações sociais (filhos tendem a seguir a profissão dos pais e/ou ficar na mesma classe social deles) e ignora os anseios e esforços da pessoa no sentido de traçar e ampliar as fronteiras do sucesso. Acredito que sua visão não considerava muitas variáveis, e uma em especial é característica marcante do ser humano: a de criar os rumos da sua própria história. Claro que o contexto em que Bourdieu escreveu tais pensamentos era outro, mas não podemos nos limitar a refletir apenas com base no entendimento de que a classe social a qual o indivíduo pertence influencia seu futuro.
Antes de mais nada, é o ser humano, detentor de vontades e atitudes, que pode trabalhar os alicerces de sua jornada no mercado de trabalho. Digo isto porque não nego os pensamentos de Bourdieu, mas também me recuso a compreender que existem fatores determinantes e condicionantes do comportamento e do amanhã. Novos costumes surgiram. A modernidade se ampliou. Novos meios de interação estão presentes em nossa vida.
Aqui eu dou um destaque maior à liberdade individual e a ousadia do caminhar… A educação ainda nos empurra para uma criação padrão de cor e musicalidade, sem fertilidade e sem espírito inquieto. Temos o nosso contexto e as nossas variáveis, mas o que vamos fazer? Podemos nos lamentar… podemos fazer o que os outros esperam que façamos… podemos seguir por caminhos corruptos… Mas também podemos sair do senso comum e idealizar uma identidade própria.
Esperar a sua empregabilidade ser fortalecida pelo universo (governos, empresas ou pessoas) é esperar que o peixe saia do mar andando e chegue frito no seu prato. Difícil acontecer? Ação!
Por Ricardo Verçoza – Professor, Administrador e blogueiro
(citação tirada do artigo Educação, Empregabilidade e Mobilidade Social: Convergências e Divergências, de autoria de Ana Heloísa da Costa Lemos, Veranise Dubeux, Mario Couto Soares Pinto – XXXII Encontro da ANPAD – setembro de 2008)